POESIA SEXUAL #8 por Celino Deira

 POESIA ERÓTICA #8

By Celino Deira

arts.montero@gmail,com

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A mulher é o bosque da cidade.

 

Os seios e coxas recordam-nos os riachos,

as matas e carne fresca de veados ruminando

ou o cio

a que nossos antepassados

 

misteriosamente cediam.

 

 *

 

No voo de aproximação do desejo

já avisto ao longe a sensual aerogare

e escura pista de aterragem da beleza feminina

 

e preparo as manobras copulatórias 

que  antecedem a perversa ancoragem

o fálico desembarque

no amigo território do amor

 

 *

 

A mulher é a presa do amor                                  


sua beleza é iguaria muito cobiçada                      

por traficantes desse comércio                             

ou caçadores furtivos da luxuria;                             


o seu tráfico atinge altos preços    

no mercado negro do amor.                               

 

 *

 

enquanto progredimos em corredor

algures dentro de aposento cerrado 

uma mulher geme de gozo

como se amado refém ou prisioneiro fosse torturado

sujeito a sensual interrogatório

por agentes secretos e oficiais

 

do amor

 

 *

 

Que nos enoje o amor praticado

quais náufragos do sexo

em total imersão de seres alheios

 

pelo excesso de humano

que involuntariamente ingerimos

 

como água salgada

 

 *

 

A mulher orgulha-se das extremas habilidades da filha

os arriscados exercícios e movimentos que empreende

ousadas façanhas e posições que adopta e manobra 

que a temerária moça pratica em sexo

como uma acrobata perversa

uma exímia contorcionista

 

do amor

 

 *

 

Finda a privada conferência com o amante ou admirador

a dama ordena às criadagem que limpe e asseie o aposento,

elimine e remova os amorosos vestígios 

que possam denunciar sua beleza perante o amo

e as severas autoridades esponsais,

 

constituir provas definitivas da ocorrência

de um grave delito amoroso.

 

 *

 

Por amorosa incompetência do macho

Parece à mulher que a foda decorreu a meio falo

que a beleza não ficou devidamente saciada e nutrida


e recorre a uma perversa réplica,

uma prótese fálica feita para concluir devidamente


a frugal refeição amorosa

 

 *

 

Quanto mais o falo se avilta e corrompe

mais a mulher mentalmente aplaude

 

como o publico circense aclama e exige

os mais perigosos números

arriscados malabarismos

 

a ousado e perverso artista.

 

 *

 

seu ser distende-se e dilata na enseada cintura

Inchado das insistentes ferroadas e mordeduras

de um  falo cravador 

mitico dragão habitante de regiões cavernosas

que sai furtivamente à luz

para caçar e se nutrir

 

de amor e beleza

 

 *

 

logo que em salão,

já bem recebidas e formalmente instaladas

nobres damas desdobram

e diante da mente abanam caprichosamente o leque

amorosamente significa e exclamam

que é na baixa cintura que o fogo 

 

simbolicamente alastra

 

 *

 

Que tarefa tenho hoje a me executar?                   

Um pouco de existir.

 

Parece muito, mas quase é nada.

Fora está o trabalho a ser,

feito em serões de relembrar,

 

sobre sagradas frontes de plangir.

 

 *

 

ao longo do tronco fálico

na lugubre extensão do seu fuste

estão gravados como em torpes tuneis de suburbio

sordidos grafitos

perversas inscrições de antigas mulheres amantes

que por lá atravessaram a mente

 

 e beleza

 

*


Algures dentro de exígua cela ou aposento

decorre lubrico interrogatório

que extrai da mulher profundos clamores de gozo como insurrecta, sensual rebelde amarrada e  

       torturada

coagida pelas amorosas autoridades

a confessar o crime da beleza

 

de que é suspeita

 

 

 

A mulher concebeu uma sagaz campanha de propaganda

para eliminar da mente dos cidadãos

a figura torpe que a sociedade faz de si,

como insaciável devoradora de falos.

 

E, pelo fim, ainda se fez fotografar com as criancinhas,

 

como vil déspota do amor.

 

 

 

Uma seita feminina recusa seleccionar o falo,

ou coloca condições à sua qualidade

e impregnadas dessa fé determinista

aceitam excitadas a sorte do orgão que lhes couber

como um sinal divino,

uma mensagem a ser interpretada

 

como pedra disposta no caminho.

 

 

 

A mulher elogia o falo guerreiro e probo

como fera que em terreiro luta

e resiste ao massacre sensual;

que vende cara a derrota do amor

e tomba exausto aos pés da mente feminina

como um generoso pescado que, por vida,

 

suspenso em linha se debate.

 

 

 

É certo que do esposo

a mulher perderá o alto sexo.

 

Tal ofício será executado

por lacaios de sua casa.

 

E será tão apreciado

quão inferior for a sua condição.

 

 

 

O sexo é uma obstipação filosófica,                                                               

e o espasmo - a tosse,

o sémen - odor a líquido vazante do ser em alta expectoração.

 

E, sem dúvida, o lugar mais nobre para nos assoarmos

é a face

 

ou mente de uma bela mulher.

 

 

 

Inquiramos sensualmente a mulher,

vigiemos rigorosamente seu pérfido passado amoroso.

 

Previamente busquemos indícios de perversão

ou semelhantes actos vis e obscenos,

de que é suspeita como um ex-agente nazi

 

do amor.

 

 

 

Executemos o sexo a pedido,                                                                                       

por desejo expresso da mulher ou nosso

e, preferencialmente, em carta registada.

 

Rejeitemos o cortejamento

e a sedução de mentes por olhares ternos,

 

a prostituição subjectiva do sentimento.

 

 

 

A mulher formou-se como as cordilheiras

ou um velho carvalho de aldeia;

 

um predador de garras sensuais,

úteis para a existência agreste;

 

um guerreiro armado e fiel

à causa amorosa de um Rei.

 

 

 

Em todos os actos existenciais

a mulher se faz acompanhar do corpo,

como um aio fiel.

 

Até em amor

ela não dispensa sua nua presença,

 

o que nos embaraça de sobremaneira!

 

 

 

Existir é um jogo de casino.                                                                                

 

E se, porventura, fracassarmos

resta-nos o suicídio pequeno,

em terraço exíguo e esquivo,

cuja porta abre, directamente,

 

para o destino…

 

 

 

Alinhei minha mente

pelo eixo mental da mulher e beleza;

 

coloquei-a na mira do falo;

 

ela é agora, para mim, - franco-atirador  da   

                                                         lascívia -

um alvo a amar.

 

 

 

Não há prostitutas em África;                                                                            

ou savana.

 

Lá as casas são redondas cabanas de barro em palha

onde lidam seminuas as imensas pegas africanas.

 

Não têm esquinas de engatar

essas aldeias de colmo Mauritanas.

 

 

 

A mulher literata é igualmente bela                                                       

e copulará, obscenamente, como as restantes,

- copeiras ou damas de salão -

Quando, no áureo momento

- o êxtase mítico do coito impressivo -

esquecer, ou fingir esquecer,

 

tudo o que leu.

 

 

 

Em altas Damas ou cortesãs

o amor cessará em certo instante

e prosseguirá na pega, como ama de leite do sexo,

pois o fim é natural e rude,

a filosofia está ausente,

e predomina a força bruta 

 

ou amor.

 

 

 

A beleza não é um banho de estanho               

de se aplicar sobre a mulher.

 

A beleza é a morfologia da própria carne

E, como um sorriso, não se pode extrair à carne,

a guardar numa caixa sobre o armário de quarto,

 

como um branco vestido de noiva.

 

 

 

O amor é invenção divina                                                                                                  vigiada por outrem terreno na hora da criação,

e que, apressadamente, correra até à vila

a divulgar a novidade;

 

mas que fora, sabemos agora, erradamente narrada,

 

isto é, nada entendera do que sentira!

 

 

 

À mulher se dedicam odes,                                                                                             

lavram versos,

gizam quadros,

elevam monumentos ou

erguem cidades,

se conquistam nações e esmagam povos,

 

como presente de aniversário.

 

 

 

O sexo é refrega, um duelo amoroso                                                                        

a realizar sob as muralhas do burgo,

em hora acordada;

 

ou o súbito homicídio,

de um soldado inimigo

 

ao dobrar uma esquina.

 

 

 

Enquanto errava, mentalmente perdido,

por vielas negras da existência,

deparei-me com a bela Dama

a quem imediatamente pedi que me indicasse

o caminho mais curto

para a Avenida central

 

de si.

 

 

 

A mulher é o infinito caseiro;                                                                                              

um universal sublime domesticado;

 

alto pensamento da populaça

ou eternidade diurna,

revelada à turba.

 

A grande religião dos laicos.

 

 

 

A mulher aprecia a fina joalharia da Flandres 

e admira a arte da filigrana

e, em geral, toda a porcelana Oriental;

 

mas, a propósito dos falos

prefere-os brutalmente rudes, tortos e abomináveis.

 

como raízes de velhos carvalhos da Toscânia.

 

 

 

Enquanto brutalmente te despias                                                                                

revelavam-se estampadas a sol

memórias de exíguos triângulos,

- velas de pano em contra-luz

gravadas na superfície de teu ser cru;

 

de que te cobres como manta Andina

nas sensuais praias argentinas.

 

 

 

O que move o mundo é a nossa eterna necessidade de mulher.

 

Esta queda como água à procura de um chão,

ou uma partícula orbitando um núcleo,

um cão, a cadela em cio.

 

Por sabermos como caixeiros que a mulher sente um vazio

e sermos nós, certamente, a ter aquilo de que ela precisa.

 

 

 

Baixaste o corpo e volveste-lo para mim,

como quem invertida se deixa gozar um pouco

e, assim, nos presta alguma atenção.

 

Então, em amor, cabe-me pagar essa inclinação!

 

Mas, ó desgraça,

mentalmente, não trago comigo um tostão!

 

 

 

A mulher obriga-se à fidelidade

como um capricho mental;

 

dedica-se ao falo único como uma castidade

um árduo jogo de resistir a exemplares alheios e maiores

de que por honra

 

quer sair vencedora.

 

 

 

Retardada ratazana morta na berma da estrada

provoca a indignação de Damas do bairro

que contestam os cantoneiros de limpeza

por demorarem a remover aquele símbolo sexual

gratuitamente exposto aos olhares públicos,

 

para deleite dos cavalheiros transeuntes

e o embaraço das damas passantes.

 

 

 

A mente feminina enrubesce defronte de frutaria,

ao cruzar-se com fêmea de bovino ou rês,

pega dirigindo-se ao pasto do amor;

 

pois relembra as injúrias

frases obscenas do amante transido

 

durante a última cópula.

 

 

 

A mulher urbana é constrangida,

mentalmente incomodada a ordenhar gado,

 

ou selecionando melões e fruta generosa

e, subtilmente, solicita ao dono da tenda,

igualmente excitado,

 

que o faça por si.

 

 

 

Verdadeiramente, é pelo falo negro,

- o grande original, -

que a mulher toma a virgindade quebrada.

 

De que o falo europeu é pífia imitação,

tradução corrompida e civilizada

 

de forças primitivas.

 

 

 

Enquanto na sala de espera,

senti na mente o toque gratuito de coxa tangente

ósculo suave e baixo de mulher alheia;

 

coxa que outros compram,

onde se consomem

 

e matam o amor.

 

 

 

Descobrimos a feminilidade da mulher                                                                   

e inventámos, prontamente, o sexo para a gozar   

- técnica extractiva do valioso filão;

 

uma paisagem a pensar,

uma velha ruína

 

onde tropeçamos, amorosamente.

 

 

 

A mulher não resolverá equações matemáticas                                                                            

ou inventará moléculas,

mas conceberá um filho,

composto por milhões de moléculas,

e povoará o mundo de novos seres

que se multiplicam sob a mágica complexidade

 

de uma invisível equação matemática.

 

 

 

Sou um exímio existente,

um mestre venerando dessa arte milenar;

mas como vivente

roço a mediocridade,

sempre revelei severas dificuldades

e sinto que estou irremediavelmente condenado

 

a um existencial fracasso.

 

 

 

Procuro na face e rosto da mulher

traços das investidas amorosas

que lhe projeto e lanço;

 

como da pedra aguardo fendas e lascas

das poderosas estocadas

 

que arremeto.


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