POESIA ERÓTICA #12 por Celino Deira

POESIA ERÓTICA #12

By Celino Deira

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Sentada és aflita

porque teu corpo te trai.

Teu corpo não te trai,

apenas te habita.

 

É a saia que sobe perigosamente

aproximando-se do bucal, a zona crítica;

é a maré a subir,

o rio a transpor os diques do olhar

e os limites a desaparecerem,

 

o olhar, a inundar a zona adstrita.

 

*

 

Por que tão sensualmente

a mulher se alarga e fortalece no quadril

como amoroso contraforte de Sé?

 

o estuário de um rio

que se deixa penetrar pelo mar?

 

certamente que lá se dobram os desejos

e a beleza requer reforço ante o pesado macho

que ali se atraca e aferroa,

se dependura suspenso

por agrilhoado falo.

 

*

 

Já te vi loura beldade

a atravessar a avenida, o caminho,

a afagar, - pesadas pernas -, o arminho,

a sublimar a forma, - a identidade.

 

E se o que imagino te não vejo, na verdade,

não me culpes, mas ao destino,

- é porque teu amor não almejo -,

e o que é sagrado, alvo de desejo,

apenas o logrará o campesino, isto é,

 

quem se preste ao ensejo.

 

*

 

Preciso, urgentemente, de beleza feminina

e suas cavidades carnais

para bem guardar todo o sémen que em mim se precipita,

 

por, da mulher, haver sofrido um violento ataque amoroso;

como se ela, propriamente, o tivesse concebido e destilado em mim.

por delgadas e laboriosas mãos,

quais pinças que manipulam pós;

 

alquímicas carnes e formas que trabalham agora na minha mente,

pois sinto-o remexer, tão claramente,

como passos em chão outonal de folhas secas.

 

*

 

A mulher lamenta e solicita as desculpas dos interlocutores

pelo atraso ou detença

e o desarranjo do semblante que apresenta

Devido a uma tentativa de violação

de que sua beleza foi alvo

por perigoso delinquente do amor

que não obstante o alarme de testemunhas

e pronto socorro das autoridades

ainda logrou extorquir-lhe algumas intimas vestes

a traficar agora certamente

 

no mercado negro do amor.

 

*

 

Observa-se que certas mulheres destemem o falo

 

á sua vista não recuam

antes permanecem indiferentes e alheias na sua presença

 

Até escarnecem da sua fealdade

Zombam do sagrado e furtivo órgão

pois já venceram a prova do grande exemplar

heroicamente já cumpriram o primeiro rito

 

sofreram na beleza e mente

o modelo dessas pífias reproduções

 

*

 

Pelo início da carreira amorosa

a mulher visita os ateliers dos pintores,

onde se despe financeiramente;

 

no apogeu da paixão frequenta a vida de um magnata;

 

e, pelo fim, já herdeira de amorosa fortuna,

pratica a caridade sexual:

 

dá-se brutalmente a gozar nos rudes braços

de rufias e indigentes

do amor.

 

*

 

Bandos marginais vigiam a bela mulher.


Na calçada dedicam-se ao saque sensual

de valiosas vestes intimas,

 

peças moralmente raras

que subtraem em abruptos assaltos

vendidas posteriormente

em mercado negro do amor

adquiridas por abastados e secretos colecionadores

 

da beleza.

 

*

 

Em sala de espera

Após a longa exposição à mulher e beleza

Dirijamo-nos ao lavabo

para destilarmos em exiguo recipiente

o sémen que nessa hora

dela se formou e coagulou em nós

 

e já devidamente selado e etiquetado

regressemos ao aposento

e restituamo-lo à legitima autora

 

- a amorosa  proprietária

 

*

 

O sangue escorria baço por seu corpo abaixo

- macio e pálido

haviam-lhe cortado os seios, sórdidos e macios

e furado as nádegas aduncas –

madrigais e colossais

e riscado o ventre e aberto o vão - os infiéis.

 

Não passa por mim tudo o que de melhor há.

As pretas naus já não navegam sobre lo mar,

mas apodrecem vagarosamente no cais,

diariamente carcomidas por pretos corvos

como um eterno repasto.

 

*

 

algumas mulheres defendem a iniciação sensual em pequenos falos

e acesso progressivo e regulado

aos níveis superiores da escala amorosa;

como quem entra cautelosamente

em água fria de oceano;

 

entretanto, outras defendem a casualidade,

ou o trauma inicial do órgão

que permitirá à mulher encarar com desdém e confiança

qualquer excentricidade fálica que, na existência,

 

amorosamente se lhe depare.

 

 

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