POESIA DE AMOR #9 por Celino Deira

POESIA ERÓTICA #9

By Celino Deira

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Também temos grandiosidade no país.

Míticas, escarpas aguçadas e cortantes,

planícies serenas, bosques escuros e húmidos;

 

Deus também obrou por aqui,

como prova a beleza das nossas mulheres e garças,

 

e os profundos desfiladeiros

que encerram.

 

*

 

Neste prostíbulo de chancela real

o pequeno amante está impedido de aceder à meretriz

e será agrupado em sessão mista de amor,

em compartimento próprio

na companhia de outros pequenos falos,

atendidos por jovem pega

como uma vala comum

 

do amor

 

*

 

Por amorosa incompetência do macho

Parece por vezes à mulher que a foda decorreu a Meio-falo

que a beleza não ficou devidamente saciada e nutrida

 

e procurando rapidamente nos seus adereços

busca a perversa réplica,

fálica prótese para concluir devidamente

 

essa frugal refeição amorosa

 

*

 

Desafrontadas as velhas senhoras

recomendam à mulher a violenta foda

a crueldade amorosa de capatazes e rufias

como curativo e purga

 

expressam sábias e crentes

que a brutalidade e selvajaria do rude macho

lhe aplacará e a libertará de toda a ansiedade

que a tomou e devora

 

*

 

em amor A mulher suporta o peso mental do macho

a ilícita carga que impetuosamente sobre ela

descarrega e tomba

 

como o repleto carro a mulher geme

se derreia dobra e verga

sob a pesada e libertina carga

 

do amor

 

*

 

A nudez da mulher é um trauma que nos perturba

como a visão acidentada de um automóvel 

ou comboio descarrilado

 

um navio submerso e encalhado

que adornasse de desejo

e revelasse a linha e rara obscenidade

 

de um casco fissurado

 

*

 

Em férias,

nas brancas praias da existência

resguardemo-nos da mulher e da exposição

ao sol da sua beleza

da cintilação ofuscante do desejo

de areia em carne

protejamo-nos enfim da perigosa e letal

 

radiação feminina.

 

*

 

Salteadores de mulheres, caçadores da beleza

infiltram-se subtilmente nas linhas de transporte

ou metropolitano

como furtivos carteiristas do sexo

 

e atacam as beldades passageiras  

às horas de ponta

 

do amor.

 

*

 

Que tarefa tenho hoje a me executar?

 

Um pouco de existir.

 

Parece muito, mas quase é nada.

Fora está o trabalho a ser,

feito em serões de relembrar,

 

sobre sagradas frontes de plangir. 

 

*

 

o príncipe é o terror amoroso das copas e sopeiras

irrompe pelas cozinhas serventias dos palácios

subindo aventais erguendo saias a eito como quebrando loiça

procurando belas sopeiras para copular

carnes tenras para fornicar os ânus

intrometer-se em suas frescas nádegas

exigindo carne e beleza a rodos

como quem pede um copo de água fresca

do amor

 

*

 

em complexas manobras políticas

o amo tolera as mancebias e intimidades da dama esposa

com um rude lacaio, servo de estrebaria

um dissimulado evasivo concubinato

comentado em surdina, a baixa voz

pelos corruptos corredores do solar

pois tal promiscuidade servirá de amorosa muralha e proteção

barreira sensual ao ataque de nobres pretendentes e aristocratas

poderosos rivais de alta casta e estirpe

 

*

 

Enquanto sou e caminho

observo os ânus femininos

que batem regularmente à minha frente

e ecoam na minha mente

como o relógio da torre de Catedral

que visualmente procuro

como um turista da mulher

 

e beleza.

 

*

 

debochadas damas professam a modéstia e frugalidade do falo

Como filosofia amorosa

e rejeitam a abundância do grande o órgão,

como desonra caída sobre o brasão de família

serem vistas na sua companhia,

abrindo excessivamente mente e cavidades para o tomarem

qual faminto corpo

 

reptil deslocando a mandíbula.

 

*

 

Recusemos as falsas pegas

como feras em zoológico urbano.

 

Exijamos para o amor

a natural rameira de viela

de alma puramente lasciva

transparente de perfídia e vileza

 

a genuinamente devassa.

 

*

 

Provimos de um decote

ou seio mal guardado;

 

uma saia que subiu em demasia,

mostrando mais carne do que mulher,

que outrora o macho espiou,

a quem, imediatamente,

 

ocorreu o amor.

 

*

 

As mulheres são as desejadas da tribo,                                                                     

as quais, inicialmente, se convencionou

que seriam por nós amadas;

 

mas que estávamos dispensados de o fazer,

porque sendo assim tão belas,

o seriam sempre,

 

tão naturalmente.

 

*

 

Sexo é uma cena mundana a apascentar;                                                              

decorre quando à janela divisamos a realidade,

vigiando o que em si bule.

 

É, mais tarde, regressarmos para o escuro do quarto

e, já imersos na poltrona,

pensarmos clara a própria janela

 

por que entrevíamos.

 

*

 

uma mulher denuncia às autoridades

o assalto amoroso de que foi alvo

na retaguarda do ser e da beleza

por apaixonados desconhecidos que empunhavam o falo erecto

ameaçando o amor

proclamando obscenidades

contra a perversa tentação e corrupção  

 

da beleza feminina 

 

*

 

A cona permanece medonha e velhaca,

tubérculo horrível ou raiz que alastra,

mas sobre si é que está o melhor:

 

a mulher como, de salgueiro,

frondosa e inocente copa, 

insuspeita de possuir imersas

 

tão lúbricas e profanas raízes.

 

*

 

Sinto-me biológico e vivo

como um insecto cativo de um futuro apodrecer.

 

Tresando odor a vivo,

tenho fome de mulher,

e há um pesado sono que sobre mim se abate

de que desperto por pensamentos que fedem, fortemente,

 

a Filosofia.

 

*

 

Não há desperdício em sexo rural.     

 

Da aldeia, o homem sacia-se de tudo dar à mulher,

e esta tudo de recolher e guardar.

 

O que demais, porventura, sobrar

sobre a terra cairá,

 

ou o mar.

 

*

 

Para a lida doméstica

está bem servida a nobre dama,

por um vasto séquito de aias, lacaios e servas fiéis.

 

Mas, estranhamente, à hora do sexo

dispensa laconicamente a sua presença

e, de mente arregaçada, executa, pessoalmente, a vil tarefa

qual laboriosa sopeira

do amor.

 

*

 

Meretrizes são veneradas e temidas,

pelo heroico passado amoroso,

repleto de feitos e batalhas obscenas.

cópulas coroadas pelo assassínio do amante;

a decapitação e ingestão do falo

de que ousadamente se apropriava,

e exibia, como um troféu

 

- a cabeça sensual do chefe inimigo.

 

*

 

Bandos marginais vigiam a bela mulher.

 

Na calçada dedicam-se ao saque sensual

de valiosas vestes íntimas,

peças moralmente raras

que serão adquiridas posteriormente

por abastados colecionadores da beleza.

 

em mercado negro do amor

 

*

 

A cona é irregular e assimétrica,    

torta como um rosto de velha,

caminho de serra ondeando por penedos inatingíveis,

 

ora calvo e ermo quando rodeia um penedo,

ora vestida de arvoredo quando,

pela charneca húmida,

 

se estende e espraia.

 

*

 

O amor decorre no ser amado.

 

Por uma escada, desce um piso de si

até à cave do Palácio que se admira.

 

Porque todos os Palácios têm uma cave,

onde a aia e o Jardineiro marcam os seus encontros,

 

«two times a week».

 

*

 

todas as noites desço à mulher

como à lobrega taverna do amor

às criptas caves sensuais da cidade

 

transponho os degraus escavados da sua penumbra

sento-me ao balcão do perverso leito

a mão bato duramente em mármore e exijo beleza

 

beleza até me embriagar de amor

 

*

 

A distinta beleza da mulher fere mentalmente

como uma indecência mental que se passeia

depravação amorosa que circula

devassidão que se apresenta

uma nudez revestida, publica injúria

sensual confeitaria de formas

arruaceira do amor

 

que existe provocadora e impune                                                                

 

*

 

Amor é uma amorosa festa de quarto e cama

frequentada por dois enamorados convivas

que cessa a altas horas de existência

numa vozearia e aclamação progressiva~

em tumulto e turbulência ascendente

uma berraria mental um espalhafato amoroso

arruaça sentimental que toda a vizinhança choca

 

e aterra

 

*

 

matinalmente pela aurora da lida

a saia tombará sobre o ânus

e o cobrirá como mantel a sagrada mesa ou altar

de olhares e pensamentos profanos

 

entretanto pelo crepúsculo o grave clérigo a descobrirá

e levantará para celebração

 

da santa missa do amor.

 

*

 

em privado certas mulheres confessam que logram e defraudam

a lei primeira do amor 

que se permitem subornar pelo garbo e abundância

e favorecem o falo generoso em prejuízo dos restantes

que se inscreveram e solicitaram a sua beleza

e aguardam interminavelmente a sua vez

as sobras do refugo da sua beleza e atenção

quando a amorosa regra as obriga a acolherem o  falo

segundo o alto princípio da casualidade e sorte  

 

*

 

Apos amorosa investida a dama envia a aia de vanguarda

como batedora do amor

exploradora do falo e territórios desconhecidos da paixão

provadora do membro como nova arma de grande alcance

dizimadora letal de províncias e povos rebeldes

pérfido engenho recentemente apresentado

à soberana monarca

 

da beleza

 

*

 

Inquiridas pelo macho que temporariamente detém

os direitos amorosos sobre a sua beleza

Umas mulheres referem que favorecem o amor bem passado”

 

outras por seu lado aprovam o falo cru e em sangue

longe de atingir a máxima potência

por lhes provocar mentais indisposição

 

e remorsos

 

*

 

Altas horas ao abandonarem o salão durante as formais despedidas

a sensata dama recomenda ao genro potência máxima no falo 

a aplicar sobre a filha

a brutalidade a selvajaria amorosa como cura impiedosa

da ansiedade que lhe tomou a beleza e a prostra inerte

a amorosa crueldade que ela não teme nem desconhece

por no passado a haver surpreendido ou a terem informado

sobre dezenas os casos amorosos clandestinos 

com os mais rudes servos de sua nobre casa

 

*

 

na noite vazia caminhamos e escutamos da cidade

a música do sexo vária e diversa

conforme a potência do falo

 

subindo escalas em tom maior ou menor

a voz de mulheres em pisos diferentes e intermitentes

a golpes de falo entoam os clamores suplicantes

 

de um animal expiado de amor

 

*

 

durante a tortura do sexo

a mulher suplica piedade ao amoroso algoz carcereiro

produz espasmos dolorosos de paixão e amor

esbraceja de amplexos movimentos sem tino

concebe dolorosos gritos lancinantes

qual vítima de suplicio ou medieval tortura

qual prisioneira

 

de amorosa inquisição

 

 *

 

Sempre que um grupo de burocratas abandona o escritório

e se desloca poeticamente até ao porto

o mar decide brindá-los,

retribuir-lhes a administrativa provocação,

e ensopar-lhes os fatos de bom corte,

por uma ou duas vagas míticas,

que parece ter especialmente guardadas

 

para si.

 

 

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