POESIA ERÓTICA PORTUGUESA #11 por Celino Deira

POESIA ERÓTICA #11

By Celino Deira

arts.montero@gmail,com

 (All rights reserved. Any reproductions must be previously approved by the author)

 

 

 

Estranhamente, em velório do esposo

a viúva conserva em vestes negras

a sensualidade elogiada e cobiçada em vida do defunto

beleza que do amor tantos industriais e magnatas

proposeram adquirir sob avultadas propostas financeiras  

apresentadas em mão

ou enviadas em oficioso envelope 

sob o lacre  e selo de honoraveis tabeliões

que o defunto sempre rejeitara

alegando um extremo amor

por essa valiosa propriedade da beleza

 

*

 

Regularmente marceneiros são chamados às casas e lares

para consertarem leitos quebrados

pela força desgovernada e abrupta do amor

que impele machos possuídos de mulher e beleza

 

machos cuja amorosa fúria a mulher despertou

e os arremete contra si,

aquela que diariamente sobre os leitos é deposta e,

de beleza aberta, qual rês submissa

 

a ordenha aguarda.

 

*

 

A mulher é emparedada entre o homem e a cabeceira da cama

e Deus espreita atentamente esse comércio de carne

- e orifícios em carne,                                              

pelo corpo de Cristo suspenso e enlaçado,          

entre os pinázios da alta cabeceira, 

 

que range e balança, sincronicamente,

aos movimentos de um casal enrodilhado que,                 

como um bloco de carne em êxtase,                

 

sobre a cama vibra. 

 

*

 

A cada passagem do amor

a beleza da mulher estremece e fendilha,

qual amoroso viaduto

a cada copula regular e administrativa

de oficial esposo

 

por cada dura e ilícita carga fornicadora de amante

essa pesada locomotiva, a carroçaria ou vagão

abre finas fendas sobre o elegante e amoroso desvão

fissuras invisíveis na esbelta estrutura

da feminina mente e ser

 

*

 

Por que tão estranhamente

a mulher se alarga e fortalece na cintura

como contraforte de Sé?

estuário de rio

que se deixa penetrar pelo mar?

 

certamente que lá se dobram os esforços

e a beleza requer reforço ante o pesado macho

que lá se atraca e aferroa,

preso se dependura

suspenso por agrilhoado falo.

 

*

 

Há o sexo fingido e o sexo pensado,

e o sexo real sobre cama ou estrado;

 

a choque de pés e mãos que, palpando, conquistam carne

e, em troca, devolvem beijos em morduras.

 

Batalhas repartidas, ganhas ou perdidas,

passos atrasados na direção de um fim.

 

Finalmente, a vitória sobre um ponto sufocado,

por onde, mentalmente, respira a mulher amada.

 

*

 

O poeta é operário mental.

Estabeleceu ofício na baixa da cidade

onde avia seres de metáforas e outros poemas.

 

Abasteçamo-nos na sua loja

e ficaremos bem servidos,

pois as metáforas dos poetas são as melhores

porque nascem da mente de um operário especializado.

 

As restantes são clandestinos pensamentos vãos e artesanais

contrafeitos no mercado negro da existência.

 

*

 

Os bicos ornamentais,

lugubremente untados de sais minerais,

vitaminados corais ao sol resplandecendo

de corantes e substâncias venais,

são indícios reais de venenosos seios fabris,

que fermentam e guardam letais

os líquidos fatais que alimentam nos festivais de cópulas seriais,

as fileiras de amantes estendidos

pela vasta e marmórea mansidão

 

de vossos corpos mortais.

 

*

 

Já todos fomos crianças

e montámos cavalos de vassoura,

mas descremos que atrás dos fatos que envergamos agora

estejam umas antigas crianças tolas;

 

de cair com a cara ao chão e levar as mãos sujas ao nariz!

 

Pois, - e isto é de loucos -,

não parece que, para quem tanto lutou, correu e montou,

 

seja agora feliz tão pouco!

 

*

 

Logo que em publicos átrios nos cruzamos,

meu garboso canídeo avista e pressente

a fêmea homóloga de bela vizinha,

e assim ele ejacula de amorosa euforia a procurar-lhe as nádegas

a encavalitar-se –lhe rapidamente no dorso

para lhe aplicar umas furtivas fornicadelas;

 

e sempre que assim sucede

noto uma indisfarçável perplexidade

 

na face e mente de sua dona.

 

*

 

Prostrada, sobre o leito

a mulher aguarda o conviva que, filosoficamente,

de si fará amoroso repasto,

um ignóbil festim sexual;

                         

que lhe vibrará o ser

entre as sábias mãos de copulador;

 

que lhe aplicará uma força tal

 

qual gume a uma rês.

 

*

 

A beleza da mulher é património do reino.

e em campanha o monarca requisita para o seu leito

a mais bela súbdita da região,

temporariamente expropria-la ao pai, amo ou esposo

a bem da nação;

 

como se instala e pernoita,

manda reservar para seu numeroso séquito

a casa do juiz, 

 

o melhor aposento do povoado.

 

*

 

Quão mais bela a mulher

mais onerosa é o valor do seu amoroso resgate

 

Como exemplo refira-se o caso de certas damas

Cujo acesso à beleza

a aquisição dos direitos amorosos

orça em milhões e exige complexos contratos

ou a bela diva cuja beleza apenas está ao alcance

de poderosos magnatas

 

do amor

 

*

 

País é um mítico lugar cuja cercadura mental

representa no solo as contendas de povos

e o que ficou acordado entre si,

como dois lavradores vizinhos;

 

é um lameiro onde se deram batalhas

e estandartes voaram sobre cavalos guerreiros.

 

Um couto onde a história teve o seu lugar

 

e um pardo jumento, hoje, tranquilamente se apascenta.

 

*

 

A mulher, como leal esposa

ou sumptuosa condessa do reino,

será a pega reservista do amor;

 

logo descerá à calçada

se para o amoroso dever a nação a chamar.

 

Qual soldado da beleza

saberá inatamente desempenhar esse perverso papel,

 

como uma jovem mãe.

 

*

 

Por ocasião das festas anuais da vila

constitui-se a comissão de honra,

da qual fazem parte, entre outros:

 

o Presidente da Câmara.

o Padre,

o Chefe da Polícia

o Comandante dos Bombeiros

o Juiz, o Médico

 

e a grande Meretriz.

 

*

 

O poeta é operário mental.

Estabeleceu ofício na baixa da cidade

onde avia seres de metáforas e outros poemas.

 

Abasteçamo-nos na sua loja

e ficaremos bem servidos,

pois as metáforas dos poetas são as melhores

porque nascem da mente de um operário especializado.

 

As restantes são clandestinos pensamentos vãos e artesanais

contrafeitos no mercado negro da existência.

 

*

 

Os bicos ornamentais,

lugubremente untados de sais minerais,

vitaminados corais ao sol resplandecendo

de corantes e substâncias venais,

são indícios reais de venenosos seios fabris,

que fermentam e guardam letais

os líquidos fatais que alimentam nos festivais de cópulas seriais,

as fileiras de amantes estendidos

pela vasta e marmórea mansidão

 

de vossos corpos mortais.

 

*

 

Logo que em publicos átrios nos cruzamos,

meu garboso canídeo avista e pressente

a fêmea homóloga de bela vizinha,

e assim ele ejacula de amorosa euforia a procurar-lhe as nádegas

a encavalitar-se –lhe rapidamente no dorso

para lhe aplicar umas furtivas fornicadelas;

 

e sempre que assim sucede

noto uma indisfarçável perplexidade

 

na face e mente de sua dona.

 

*

 

Prostrada, sobre o leito

a mulher aguarda o conviva que, filosoficamente,

de si fará amoroso repasto,

um ignóbil festim sexual;

                         

que lhe vibrará o ser

entre as sábias mãos de copulador;

 

que lhe aplicará uma força tal

 

qual gume a uma rês.

 

*

 

A beleza da mulher é património do reino.

e em campanha o monarca requisita para o seu leito

a mais bela súbdita da região,

temporariamente expropria-la ao pai, amo ou esposo

a bem da nação;

 

como se instala e pernoita,

manda reservar para seu numeroso séquito

a casa do juiz, 

 

o melhor aposento do povoado.

 

*

 

Quão mais bela a mulher

mais onerosa é o valor do seu amoroso resgate

 

Como exemplo refira-se o caso de certas damas

Cujo acesso à beleza

a aquisição dos direitos amorosos

orça em milhões e exige complexos contratos

ou a bela diva cuja beleza apenas está ao alcance

de poderosos magnatas

 

do amor

 

*

 

País é um mítico lugar cuja cercadura mental

representa no solo as contendas de povos

e o que ficou acordado entre si,

como dois lavradores vizinhos;

 

é um lameiro onde se deram batalhas

e estandartes voaram sobre cavalos guerreiros.

 

Um couto onde a história teve o seu lugar

 

e um pardo jumento, hoje, tranquilamente se apascenta.

 

*

 

A mulher, como leal esposa

ou sumptuosa condessa do reino,

será a pega reservista do amor;

 

logo descerá à calçada

se, para tal a nação a chamar.

 

Qual soldado da beleza

saberá inatamente desempenhar seu pérfido papel,

 

como uma jovem mãe.

 

*

 

Teu corpo lombrigal é a Rainha-Mãe,

a que tudo abarca e abastece todas,

as outras resolutas súbditas,

por imensas e insensatas tetinas gastas;

 

grossos seios, de ébrias saídas cada, em sórdidas entradas múltiplas;

as tinas todas, às horas tantas;

de mutação em sucção,

as entradas loucas,

 

longas estradas paralelas até à próxima curva.

 

*

 

o lume crepita a carne despede a sua gordura

e as peças vão saindo para a mesa agitada e ruidosa de convivas

sai mais uma roda de carne abrasada e fumegante

diretamente para a sórdida mesa e ... eis o falo,

eis ele, novamente !!!...

que em nosso amoroso churrasco

essa perversa peça o naco

sempre cabe em sorte e amor

 

no prato sensual da mulher

 

*

 

O ser é inquilino de um corpo

e, ao morrer, deixa de pagar renda ao corpo

que, consigo, morre também.  

 

Porque Casa inabitada é casa vazia

e casa vazia fede a mofo,   

anunciada de derrocada por estridentes fitas 

e coloridas barreiras de protecção

que avisam os caminhantes da proximidade de

um condenado corpo,   

  como flores na campa.

 

*

 

A nobre condessa hoje caminha amparada por servas

apoiada no bengalim cravejado de esmeraldas e rubis

e recorda com as aias os áureos tempos da beleza

as vertiginosas acrobacias amorosas

que facilmente executava de membros afastados

os arriscados movimentos amplexos;

 

qual temerária ginasta e trapezista do amor

equilibrava mente e ser na extrema ponta de um abjecto falo

 

ereto por si

 

*

 

Há o sexo fingido e o sexo pensado,

e o sexo real sobre cama ou estrado;

 

a choque de pés e mãos que, palpando,

conquistam carne e, em troca, devolvem beijos em morduras.     

  

Batalhas repartidas, ganhas ou perdidas, 

passos atrasados na direcção de um fim.    

                            

Finalmente, a vitória sobre um ponto sufocado,

por onde respira mentalmente o ser amado.

 

 

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